segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Falta d'água prejudica recuperação de idosos e doentes em Itu

Falta d'água prejudica recuperação de idosos e doentes em Itu

Uma rua da cidade tem nove pessoas acamadas que não recebem água.
Famílias devem fazer cadastro na prefeitura para ter prioridade, diz empresa.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
A forte estiagem que atinge o estado de São Paulo tem prejudicado os moradores de Itu(SP) desde fevereiro, quando a cidade adotou o racionamento de água. Mas para um grupo de moradores, os idosos acamados, o problema é ainda maior. Sem água nas torneiras há mais de 20 dias, eles têm dificuldades para se cuidar.
No Jardim Alberto Gomes, em apenas uma rua há nove idosos acamados. Eles deveriam ter prioridade no abastecimento, mas não é isso o que acontece, informam os moradores. Segundo eles, o caminhão-pipa que deveria ser enviado pela concessionária passou poucas vezes pela rua Alexandre Toccheton, onde vivem mais de 60 familias. Os moradores dizem que o que veem é apenas um caminhão que vende tambores com água: mil litros por R$ 120.
Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Idosos e acamados ficam mais prejudicaos com
a falta d'água (Foto: Reprodução/TV TEM)
"Caminhão-pipa passou uma vez só. A gente está comprando água", diz a dona de casa Benedita de Jesus dos Santos. Ela cuida da mãe Maria de Lurdes.
O idoso Joaquim Pereira, de 92 anos, diz que se não fosse a ajuda dos outros, não sabe o que seria. “Eu coloco água no lavatório para tomar banho. Agora mesmo eu lavei a cabeça, lavei tudo dessa forma.”
A moradora Geralda Izildinha Zagui, filha da Rita, idosa que precisa de cuidados especiais, comenta que está difícil ficar comprando água, já que gasta R$ 600 em remédios com a mãe. “Não vem caminhão-pipa aqui para deixar pelo menos um balde, dois baldes de água.”
A idosa Maria José dos Santos, 79 anos, que mora na mesma rua de Itu, explica que tem rezado bastante para que volte a chover. "Estou orando porque precisa. Não sou só eu que preciso. Eu rezo para todos viverem bem, com água, com saúde", diz Maria.
A concessionária Águas de Itu informou que as casas onde há acamados e pessoas com dificuldade de locomoção tem prioridade no abastecimento. Para isso, as famílias devem procurar a Secretaria de Saúde e fazer um cadastro. A concessionária informou também que a rua Alexandre Toccheton está incluída no atendimento por caminhão-pipa, conforme programação.
Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Rua de Itu com 60 famílias tem nove pessoas acamadas (Foto: Reprodução/TV TEM)
Ajuda divina
O racionamento de água em Itu tem feito com que moradores fiquem até um mês sem receber uma gota de água na torneira. Sem saber o que fazer, eles enfrentam um martírio em busca do recurso. Fontes de água, como bicas e poços, recebem movimento de pessoas até mesmo durante a noite e de madrugada. O pedido por água tem feito parte também das missas da Igreja Católica na cidade.
Moradores vão à igreja para rezar por chuva em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores vão à igreja para rezar por chuva em
Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)
Muitos fiéis procuram ajuda divina para a solução da crise no abastecimento de água, que já dura nove meses na cidade. O aposentado Valdemar Guido conta que pede a Deus que volte a chover. “A gente acredita muito que Deus pode nos ajudar. O tempo de Deus é um pouco diferente do nosso, mas virá a resposta”, afirma.
Em cada igreja é realizada uma oração pela chuva. Na igreja matriz da cidade a oração do Papa João VI entrou no cronograma da missa. “Primeiro lugar, nós devemos recorrer a Deus, que Ele que nos mande chuva. Ele que é o Senhor da vida”, afirma o padre Francisco Carlos Rossi.
Para a aposentada Inês Teixeira, a única saída é a intervenção vinda do céu. “Pedir a Deus, tem que ser para ele mesmo. Para os homens não adianta mais pedir”, conclui.
Moradores vão à igreja para rezar por chuva em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores vão à igreja para rezar por chuva em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)
Contas em dia
O problema da falta de água em Itu tem afetado a vida dos moradores, inclusive, a parte financeira. Além de terem que gastar comprando garrafas, galões e até caminhões-pipa para abastecer as residências e comércios, os moradores continuam recebendo a conta e, segundo eles, está ainda mais cara.
De acordo com o comerciante Ivan Pereira, dono de uma lan house, o movimento caiu 40% por causa da falta d'água. Ele explica que precisou tomar medidas drásticas no comércio. O único cômodo onde se usava água era o banheiro, mas teve de orientar os clientes a procurar outro lugar para uso pessoal.
Moradores de Itu reclamam que falta água mas conta chega em dia (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores de Itu reclamam que falta água mas
conta chega em dia (Foto: Reprodução/TV TEM)
Por causa da queda no movimento, Ivan já soma os prejuízos. Principalmente porque a conta de água também não para de subir. O proprietário fez um vídeo do que acredita estar ocorrendo. É possível ver que o relógio do hidrômetro não para de girar, mas da torneira, só sai ar (veja acima). O comerciante diz que antes do racionamento pagava em média R$ 40 de conta. As últimas contas variaram entre R$ 190 e R$ 390.
Em um salão de beleza, o problema também é sentido. Para a cabeleireira Marlene Ferreira dos Santos, o momento mais revoltante de toda essa situação que afeta a cidade é quando chega a conta de água. Mesmo sem nada nas torneiras, ela diz que os valores só aumentam. No ano passado, sem o racionamento, Marlene comenta que gastava uma média de R$ 80 por mês. Agora, a conta fica em torno dos R$ 140.
No salão de beleza, que fica no Jardim União, a cabeleireira diz que o movimento de clientes caiu pela metade desde o início do racionamento. Ela explica que por falta de água, muitos serviços deixaram de ser feitos. Até o banheiro do comércio teve o uso restrito e tudo o que ela consegue comprar ou buscar em bicas está em galões.
A concessionária Águas de Itu, responsável pelo abastecimento de água na cidade, informou que cada caso vai ser avaliado. No salão da Marlene, a cobrança foi feita pela média. A empresa já fez a revisão e a conta baixou para R$ 69.
A fatura da lan house também vai ser revista por um funcionário da concessionária. De acordo com a empresa, quem tiver dúvidas em relação ao valor cobrado pode pedir a verificação. Basta ir a uma das lojas da concessionária.
Repasse liberado
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin assinou no dia 28 de outubro o contrato de R$ 2 milhões para reforçar o abastecimento de água em Itu. O plano emergencial conta com mais 20 caminhões-pipa, usados para distribuir água pelos bairros da cidade. O contrato emergencial para reforçar o abastecimento na cidade vale por um mês e pode ser prorrogado.
Segundo o governo estadual, embora o abastecimento na cidade seja responsabilidade de empresa privada contratada pelo município, é atribuição da Defesa Civil atuar nesse tipo de situação. A Defesa Civil também comprou sete caixas flexíveis que serão espalhadas pela cidade e funcionarão como postos de distribuição de água.
“A posição do Estado é sempre de colaborar com os municípios. Nós já mandamos para Itu a Defesa Civil, sistemas de caixa d’água, caminhões-pipa e hoje assinamos um convênio de R$ 2 milhões de reais, onde o Estado vai repassar o dinheiro e a prefeitura cuidará do abastecimento”, disse Alckmin.
 A reunião, no Palácio dos Bandeirantes, contou com a participação do prefeito do município de Itu, Antônio Luis Gomes Filho (Tuíze) e do coordenador estadual da Defesa Civil e secretário chefe da Casa Militar, coronel José Roberto de Oliveira.
Durante a assinatura do convênio na capital, Geraldo Alckmin falou sobre um novo projeto para levar mais água, a longo prazo, para a região de Itu.
“Existe um consórcio formado por quatro municípios, Cabreúva, Itu, Salto e Indaiatuba, que tem um estudo, um projeto para fazer uma barragem, um dique, no ribeirão do Piraí, que é um afluente do rio Tietê. Não é coisa rápida, a curto prazo, mas é projeto de médio prazo para fazer a represa do ribeirão do Piraí. Isso demanda obras, desapropriações, enfim, para ser estudado”, disse o governador.
Geraldo Alckmin assina decreto para liberar R$ 2 milhões para Itu (Foto: Divulgação)Geraldo Alckmin assinou decreto para liberar R$ 2 milhões para Itu (Foto: Divulgação)
Vigília e peregrinação
Sem saber o que fazer para conseguir água, os moradores de Itu estão em busca de fontes de água, como bicas e poços, e quando encontram, estão virando a madrugada acordados em filas para encher os recipientes e poder levar para casa.
Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores fazem fila durante a noite e madrugada
para pegar água (Foto: Reprodução/TV TEM)
As bicas recebem pessoas o dia inteiro e o movimento continua mesmo durante a noite e de madrugada. Das 23h até 1h, os moradores improvisam e pegam água em um ponto da cidade que tem um poço.
A fonte tem apenas um metro e meio e a qualidade da água não é das melhores. Eles usam um motor para bombear a água para galões que são colocados no carro e levados para casa.
No bairro Cidade Nova, uma das regiões mais castigadas com o racionamento, são três bicas. Canos onde moradores colocam garrafas e baldes para pegar água. Durante todo o dia, a cena se repete e há filas. O problema é que ninguém sabe a qualidade da água disponível. A água vem e um lago, que recebe água de uma represa.
Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores estão pegando água em locais sem garantia de qualidade (Foto: Reprodução/TV TEM)
Medidas contra a seca
A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) disponibilizou dois caminhões pipa, dos 20 prometidos, ao município de Itu. Cada um dos veículos tem capacidade de transportar 8 mil litros de água para o atendimento à população.
Segundo o governo estadual, a água que será levada para Itu pelos caminhões-pipa será captada em duas empresas particulares, que disponibilizam água potável para ser distribuída na cidade.
Segundo o coordenador da Defesa Civil do Estado de São Paulo, José Rodrigues de Oliveira, outras medidas serão tomadas para amenizar a crise na cidade. "Estamos mandando pra Itu sete tubos flexíveis, que são tanques, que serão colocados na cidade juntos aos que já existem, para que as pessoas possam ir até lá e pegar água potável", explica.
Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Caixas d'água foram distribuídas pela cidade para
facilitar para moradores (Foto: Reprodução/TV TEM)
As caixas funcionarão como postos de distribuição de água. A Sabesp também enviou um engenheiro da empresa para dar consultoria aos técnicos da empresa privada responsável pelo abastecimento na cidade. Uma nova adutora também está sendo construída para captar água do córrego Mombaça.
A concessionária Águas de Itu informou que três tanques foram instalados na cidade para a população captar água: um na praça 14 Biz, com volume de 20 mil litros; um na praça dos Exageros, também de 20 mil litros; um no bairro Pirapitingui, com capacidade de 70 mil litros de água.
Entenda a crise
O racionamento de água em Itu já dura quase nove meses e alguns moradores dizem que ficam até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chega nas casas é com o caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores estão apelando até para a zona rural.

Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
No entanto, conforme o documento enviado em julho, o Ministério Público aponta que a precariedade no abastecimento de água para a população não decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, o órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana. Em um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
De acordo com a liminar, caso a água não chegue até o imóvel, a população deve reclamar na concessionária que terá que resolver o problema em 48 horas e a prefeitura será multada. Para o promotor, a intenção do órgão é esclarecer à população sobre os seus diretos. “Nós intensificamos a importância dos registros já que as pessoas não sabiam o que fazer e quem procurar. Temos outros pontos de atendimento, mas vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a muito mais dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz. O morador também deve fazer a denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no bairro Brasil.









FONTE ORIGINAL:    http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2014/11/falta-dagua-prejudica-recuperacao-de-idosos-e-doentes-em-itu.html

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